terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

POETAS E POESIA ALENTEJANA


Poema ao Alentejo
Horas mortas... Curvada aos pés do Monte 
A planície é um brasido... e, torturadas, 
As árvores sangrentas, revoltadas, 
Gritam a Deus a bênção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte 
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas, 
Esfíngicas, recortam desgrenhadas 
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram, 
Almas iguais à minha, almas que imploram 
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não choreis! Olhai e vede: 
- Também ando a gritar, morta de sede, 
Pedindo a Deus a minha gota de água!

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"
foto: guizel