quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

ALENTEJO ---------- ( SECA ADEGAS) ( E PAPA VINHO) AGORA EM LIVRO.

Alentejo - «Seca Adegas» e «Papa Vinho» agora em livro

As tabernas típicas do Alentejo, hoje uma realidade à beira da extinção, foram palco para a criação de muitas alcunhas por parte dos que as frequentavam. «Seca Adegas», «Garrafão com Pernas», «Papa Vinho», «Zé Bêbado», «Seca Pipas», «Seca Tabernas», «Mata Vinho», estão entre muitos dos exemplos de «mimos» no trato dados a conhecer no livro «Vinho do Alentejo - Temas Culturais», de Francisco Martins Ramos.

Café Portugal | terça-feira, 19 de Outubro de 2010

Muitas destas alcunhas foram criadas por aqueles que passavam longas horas nas tabernas alentejanas. Francisco Martins Ramos, antropólogo e professor catedrático aposentado da Universidade de Évora, personalidade experiente nas alcunhas do Alentejo, conta-nos agora, em livro, muitas estórias em torno destes «nomes» criados pelos que conviviam naqueles locais muito peculiares.

O professor centra-se nas alcunhas ligadas ao mundo do vinho, reunidas no texto «E (t)nologias», apresentado recentemente num encontro da Confraria dos Enófilos do Alentejo.

«Aquando da pesquisa para o ‘Tratado das Alcunhas Alentejanas’, verifiquei que havia algumas com relação vinícola em todos os concelhos e, depois, aproveitei-as para este texto», refere o autor.

Francisco Martins Ramos realça que apesar do tom «humorístico», o texto «tem significado» e sublinhou que as alcunhas, umas «mais ofensivas» e outras «mais generosas», são «simbólicas e não existem por acaso».

Salienta que existe «um discurso óbvio, evidente e explícito» nas alcunhas e refere que «chamar a um indivíduo ‘Seca Adegas’ é, legítima e naturalmente, realçar uma característica comportamental de alguém que adora o saboroso néctar».

«Nessa linha de pensamento se entende o significado dos epítetos ‘Papa Vinho’, ‘Zé Bêbado’, ‘Seca Pipas’, ‘Seca Tabernas’, ‘Mata Vinho’», acrescenta.

Porém, afiança, há «pequenas subtilezas linguísticas» que podem induzir em erro: «O ‘Copinhos’, o ‘Pinguinhas’, o ‘Garrafanito’, o ‘Gargalinho’ e o ‘Garrafinha’ são bebedores comedidos ou trata-se de amantes resolutos e decididos do inigualável manjar dos deuses?».

E «o ‘Adega’ e o ‘Adegueiro’ têm uma adega ou gostam de a frequentar? Já o ‘Adega Ambulante’ e o ‘Garrafão com Pernas’ parecem não oferecer dúvidas: correm as capelinhas todas».

O antropólogo questiona ainda se o indivíduo alcunhado como «Bêbado da Quarta» será «suficientemente programado para só se embebedar à quarta-feira” ou se o “Aguardente” é apenas fiel àquela bebida, tal como o “Bagaço” e o “Bagacinho”».

Mas a verdade, reforça o autor, é que «o ‘Quinta Sinfonia Alcoólica’ só valoriza a música quando está bêbado” e o mesmo acontece com um indivíduo alcunhado de ‘Ópera de Empurrão’» que «manifesta as suas qualidades artísticas quando está com ‘um grão na asa’».

O escritor refere ainda que a riqueza antropológica das alcunhas «não tem fim», e recorda que estas também podem mentir, «intencionalmente ou não».

Exemplo dos cognomes que podem iludir são o «filho do ‘Papa Vinho’», que recebeu a alcunha do pai, mas «é abstémio», a «filha do ‘Aguardente’ que só bebe Seven Up» e o indivíduo conhecido como «Securas», que afinal de contas bebe muito».

Recorde-se que o autor conta ainda com várias obras publicadas, sendo a mais conhecida o «Tratado das Alcunhas Alentejanas» (2002), que reúne mais de 30 mil alcunhas recolhidas nos distritos de Portalegre, Évora, Setúbal e Beja.