TI ZÉ BONITO
" José Custódio Domingos Brincheira, com 88 anos de idade, natural de Mértola, viúvo, mais conhecido por Ti Zé Bonito, tem uma vida que muito dá para contar. Aos oito anos de idade não foi para a escola: foi para a escola da vida, a dos pobres da altura. Como o pai do Zé, carreiro por profissão, trabalhava na loja do José Galho, estabelecido com roupas e mercearia, logo se se lembraram dele para ir fazer mandados. Em troca, na loja, onde é hoje o Café Guadiana, ia recebendo, de quando em vez, uma melhadura. Pequena compensação pois o Zé era pequeno, além de mocinho bonito. Devo já dizer que, por esse facto, ficou logo mais chamado por Zé Bonito , por aqui e ali.
Trabalhador de campo na monda e na ceifa que o Fialho de Almeida retratou no "País das Uvas", servente de pedreiro e da moagem, operário conserveiro em Vila Real de Santo António, com " pá e pica " nas estradas à volta de Beja. Vendedor de água, nas ruas da vila, com o burro
carregado de quatro cântaros de dez litros, a um escudo cada, era ele que "matava" então a sede de água potável da maré vazia do Guadiana a grande parte da população.
Mas o que os mais velhos, ainda hoje, alumiam, foi a lida, em particular, que ele teve durante muitos anos: a carregar sacos de 77 quilos de farinha às costas, além rio, para as padeiras da vila de Mértola. Já com 30 anos de idade, fazia esse trabalho pelo qual cobrava quatro escudos por saco. Trabalhador barqueiro no transporte do rio também foi.
Zé Brincheira foi, apesar de tudo, jovem desportista, amador do ciclismo. Envergando a camisola do Benfica, participou, conjuntamente com os algarvios que aqui viviam, além do Arnaldo, do Zé Colaço e do Zé da Cruz, nas corridas de ida e volta ao Vale d'Açor nos arredores, organizadas pelo Zé Silvestre. Ganhou medalhas na bicicleta alugada, a um escudo por quarto d'hora.
Hoje, Ti Zé Bonito, na casa que habita na Vila Velha, faz frequentemente as refeições de caldeirada de muge. Lava também a sua própria roupa, com sabão azul e branco. Trata, no quintal, das laranjeiras e do limoeiro.
Com uma reforma de cerca de 40 contos apenas, lá vai governando a vida. Deita-se às 23 horas e, num só sono, levanta-se pontualmente às 7 horas. Com razoável saúde, exceptuando o mal das cataratas, o que não o impede, claro está, de comer, à noite, a bucha que traz de casa, com a indispensável cerveja, num dos cafés da vila.
Queremos que Ti Zé Bonito fique connosco muitos e muitos anos, relatando-nos as suas histórias da vida. Ele é um símbolo do Trabalhador Alentejano...
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In" Textos Alentejanos "- de João Honrado
Mas o que os mais velhos, ainda hoje, alumiam, foi a lida, em particular, que ele teve durante muitos anos: a carregar sacos de 77 quilos de farinha às costas, além rio, para as padeiras da vila de Mértola. Já com 30 anos de idade, fazia esse trabalho pelo qual cobrava quatro escudos por saco. Trabalhador barqueiro no transporte do rio também foi.
Zé Brincheira foi, apesar de tudo, jovem desportista, amador do ciclismo. Envergando a camisola do Benfica, participou, conjuntamente com os algarvios que aqui viviam, além do Arnaldo, do Zé Colaço e do Zé da Cruz, nas corridas de ida e volta ao Vale d'Açor nos arredores, organizadas pelo Zé Silvestre. Ganhou medalhas na bicicleta alugada, a um escudo por quarto d'hora.
Hoje, Ti Zé Bonito, na casa que habita na Vila Velha, faz frequentemente as refeições de caldeirada de muge. Lava também a sua própria roupa, com sabão azul e branco. Trata, no quintal, das laranjeiras e do limoeiro.
Com uma reforma de cerca de 40 contos apenas, lá vai governando a vida. Deita-se às 23 horas e, num só sono, levanta-se pontualmente às 7 horas. Com razoável saúde, exceptuando o mal das cataratas, o que não o impede, claro está, de comer, à noite, a bucha que traz de casa, com a indispensável cerveja, num dos cafés da vila.
Queremos que Ti Zé Bonito fique connosco muitos e muitos anos, relatando-nos as suas histórias da vida. Ele é um símbolo do Trabalhador Alentejano...
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In" Textos Alentejanos "- de João Honrado