terça-feira, 7 de outubro de 2014

POETAS E POESIA ALENTEJANA



Minha Mãe foi rancheira
Num rancho de ceifadores,
Pariu-me lá p'ra ribeira

Toda torcida com dores.

Meu Pai era um ganhão
Seu nome era Bailundo
Lá p'ras terras do suão
Maltês do fim do mundo.

E ali também eu nasci
Numa cama de palhiço
Foi ao meu Pai que ouvi
Já não me lembro disso.

Eu comi açorda de poêjo
E migas de pão rojão
Se dissesse um gracejo
Tiravam-me logo o pão.

Para as bocas alimentar
Lavrei terra, e colhi pão
Fui um moiro a trabalhar
Cheio de suor e sofridão.

Fui um pastor de ovelhas
E dos porcos um maioral
Ensopado até às orelhas
Nas semanas de temporal.

Nesta vida de ganhão
Sonhos, tenho de sobra
Corta-se-me o coração
Rastejar como a cobra.

Sonhava com melhorias
Não querendo ser ganhão
Nestas grandes ganharias
Eu sonhava, ser patrão.

O sonhar do pobre é bom
Mas ao acordar, já não.
O sonhar do rico, é dom
A tudo chega com a mão.

ZÉ RUSSO 
14-11-2013