sexta-feira, 20 de janeiro de 2012



Arronches, 20 Fevereiro 2008



Joaquim carvalho, de 86 anos, toda a vida foi Abegão (carpinteiro de obra grossa). É dos poucos no alentejo a construir e restaurar carrocas.Devido à "vida difícil" e "constante miséria" em que a família vivia, Joaquim Carvalho, natural de Alter do Chão, teve que rumar, em "cachopo", até Arronches, para casa de uns familiares.Hoje, reconhece que a arte de abegão "é uma pérola que, infelizmente, se está a perder".... "Eu gostava de ensinar aos jovens esta arte, mas há uns 12 anos tive aqui um aprendiz que só aguentou dia e meio de trabalho. É uma pena a juventude só se interessar pelas discotecas e dormir durante o dia", lamentou.O abegão alentejano, que toda a vida construiu carroças, reconhece que o que foi para si uma grande responsabilidade, noutros tempos, é agora um "simples biscate", entre as quatro paredes do casarão onde trabalha.Entre as divisórias da oficina, com teias de aranha e o chão em terra batida, onde todas as manhãs se dedica às carroças, Joaquim Carvalho tenta descontrair do "stress" vivido em casa, espaço em que cuida da mulher, "necessitada de cuidados de saúde permanentes"."Só venho para aqui de manhã, já não tenho pernas, nem saúde para mais", diz à Lusa, enquanto mostra um rolamento que vai usar para construir a roda de uma carroça.Instado a revelar quanto é que custa uma carroça, Joaquim Carvalho responde prontamente, sem esconder o que vale a sua arte: "Custa cerca de 600 euros"."Mas, normalmente nunca posso avançar com um preço certo, porque tenho que contar também com o trabalho elaborado pelo ferreiro", sublinha.Enquanto movimenta, embora com dificuldade, uma roda para ser restaurada, o abegão explica que leva cerca de quinze dias a recuperar uma carroça e cerca de um mês a construir uma de raiz."Aqui só trabalho com madeira de azinho, não entra mais nada", afiança, orgulhoso, enquanto recorda histórias de uma vida, momentos em que a profissão de abegão era reconhecida e importante na vida do povo português.No interior do casarão onde trabalha, o octogenário dedica-se ainda a executar outros trabalhos em madeira, mas a sua verdadeira paixão são as carroças.Não fosse ele um homem natural de Alter do Chão, vila onde o cavalo é "rei e senhor" e a carroça uma das peças fulcrais da história de um tempo recente.Ao final de cada dia, o abegão sonha de imediato com a manhã do dia seguinte, certo de que, quando abrir o cadeado que tranca o velho portão em madeira da sua oficina, logo será visitado por turistas que se interessam pela sua arte."É uma boa recompensa ser visitado e observar que as pessoas apreciam aquilo que faço. Ganho logo o dia", conta, satisfeito.Lusa/