terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Cabrão do Dono



Noite riscada de negrume e silêncio, mãe ou madrasta? Nos cerros da Alagoinha um pássaro tresnoitado piava o seu fracasso ou secundava-lhe a empresa timorata? Cúmplice ou delator? Como sabê-lo?
Já lhe não bastava ter que passar rente ao cemitério! Aí então um frémito de terror irrompera dentro de si. Porém nada o detém.
Ao ombro a saca de empreita. Na mão, a lanterna velha e ferrugenta de ir ao candeio.
O meloal estendia-se por uma vasta córrega a corga de trás dos cerros da Alagoinha.
Melão que vinha «no cedo», melão temporão, nada serôdio que punha a boca tão em água como o beijo de moçoila- coelha brava em tempo de cio.
Brilham-lhe os olhos na noite negra como dois vaga-lumes.
Incidindo a lanterna, os melões amarelejando, amarelejando…
Por detrás «carconso» vem Chico Enterrador e munido dum «fascoto» arreia duro na «lombeira» de Tó Sarilhos.
Um grito lancinante rasgando a noite:
Quem é o cabrão que me está batendo?!
Chico Enterrador entre irado e irónico;

È o cabrão do dono!

Ecoando pelos cerros da Alagoinha:

CABRÃO do dono……CABRÃO do dono…

Do meu livro editado recentemente "Cozendo o Pão ,Costurando aVida"