sábado, 3 de novembro de 2012


Noite de Bruxas - (Conto de Arrepiar)


Seriam umas quatro da manhã.
Toda a gente dormia quando Eles chegaram à rua daquela casa.

Os pais dormiam no quarto da frente.
As crianças dormiam profundamente naquele a que chamavam o quarto novo, no sotão.
Era aí que a mãe os tinha deixado horas atrás quando tinha ido desligar o aquecedor a oleo, antes de se ir deitar como fazia todas as noites.
Enquanto descia a escada, tinha-se lamentado pela maldita hora em que tivera anuído na péssima ideia de os deixar meter uma cama no sotão.
Ao mesmo tempo, o marido, que tinha ficado no salão do rés do chão, subia para o quarto após o habitual zapping, denunciado pelo silenciar da TV, pelos canais escondidos na listagem acessível ao resto da família.

Ninguém deu por nada, que a noite anterior tinha sido longa, o jantar pesado, conversa até tarde.

Eles traziam o rosto quase completamente coberto.
Cuidadosamente, enfiaram as luvas para que pudessem fazer o seu trabalho, sujo, sem qualquer marca. Cirúrgico.
Profissionais, cada movimento estava completamente planeado, e os 3 sabiam de cor cada detalhe para que o seu «trabalho» fosse executado no menor tempo possível.
Estava imenso frio, mas eles iam fazer o que tinha de ser feito.
Ninguem daria por nada.
Talvez um cão ladrasse.

Quando saíram do local onde tinham o carro, não trocaram uma única palavra.
Cada um sabia exactamente ao pormenor a sua missão.
Num último olhar, cada um dos 3 leu nos olhos dos outros 2 a certeza de que estava na hora e os 3 viram imediatamente que cada um se sentia preparado.
Subiram as golas dos fatos e partiram.

Quando chegaram ao objectivo, como era habitual, Um deles ficou dentro do veículo, sempre com a ignição ligada.
O barulho abafado do motor, como se tivesse algum tipo de silenciador, permitia que se deslocassem pela calada da noite, numa cadência encenada, quase dança, silenciosa, quase fantasma.
Os outros Dois, avançaram para o primeiro objectivo.
Pouco depois, ouvia-se um barulho que vinha da rua.
Um guinchar metálico ecoava na noite.
Um tiro? um silvo? Um uivo? Um grito?

Quem, com aquele frio dentro de casa, aquela hora da noite de 31 de Outubro, tivesse tido a coragem para erguer-se da cama e se tivesse aproximado
da janela, teria visto afastar-se um estranho carro, com dois vultos de 2 homens pendurados nas traseiras a afastar-se na bruma gélida da noite.

Quando chegaram ao fim da sua viagem, estavam exaustos e enrregelados.
Sofrem muito, os homens do lixo. ;))